quinta-feira, 5 de março de 2009

Um Viva para Villa-Lobos, por Fabiano Canosa

O Villa é a cara do leão da Metro, assim dizia o poeta, impressionado com o layout do mestre, cabeludo, um pouco desengonçado, a antítese do compositor clássico imaginado pela turma que não passa na porta do Teatro Municipal.

O leão brasileiro, com sua altivez hirsuta, era o Villa-Lobos, cujo centenário de morte se comemora este ano, no dia 17 de novembro. No entanto, esta semana, no dia 5, ele completaria 122 anos. Neste mais de um século, o Brasil foi definitivamente marcado, tatuado mesmo, pela sua presença marcante e influente, pois ele é referência quando se fala em música do Brasil.

De Tom Jobim a Glauber Rocha, de Jorge Aragão a Elizeth Cardoso, do Modern Jazz Quartet a Johnny Mathis, Villa-Lobos é a resultante de todos estes vetores e, diga-se de passagem, que quanto mais a gente o descobre através de um dos maiores legados musicais da história da humanidade (mais de mil composições entre quartetos, óperas, sinfonias, concertos, canções cívicas, para não falar das suas imortais Bachianas), mais o apreciamos.

O segredo do Villa era a sua crença quase messiânica de que a música era uma só, fosse clássica, popular, brega ou cult. A música era uma só desde que viesse da inspiração de seu compositor, não de poliester como tanta coisa que se ouve por aí agora, imposta pelo consumerismo de shopping e pela ausência de uma política nacionalista apartidária, para não falar na globalização dos veículos de transmissão- rádio e Tv.
Que Villa-Lobos seja mais conhecido fora do Brasil é outra uma prova de nossa predisposição para colonos da Mediocrópolis, aquele país onde se plantando nada cresce, e os gênios que temos o privilegio de hospedar por algumas décadas são destinados aquele purgatório chamado "ja-ouvi-falar".

O Villa não era daqueles músicos que ficavam antissepticamente distantes do povo- esta foi talvez a sua maior qualidade, mais do que a de inovador. Ele era furão, gostava de samba, suor e tabaco, faroeste, charuto e mulata, sinuca e pandeiro, falava e compunha sem pudor. Era um dos reis da sinuca do Vermelhinho, perto da ABI, onde confraternizava com a galera da Cinelândia, de jornalista a malandro.

E gostava também de carnaval- criou um bloco, o Saudade do Cordão- para reviver os anos de sua infância e estimular o samba de rua. Amigo dos Batutas de Pixinguinha e Donga, levou pros teatros municipais do mundo inteiro aqueles instrumentos nativos e importados das Áfricas, incorporando aqueles sons exóticos aos violoncelos e harpas dos templos e salões aristocráticos, democratizando, e miscigenando a música clássica com seus choros e bachianas.

Viva Villa e seus 122 anos de vida musical.

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